17/03/2009

Sol e dó, Dodos

A mim a música chega empacotada numa pen: um dispositivo azul que já perdeu a tampa, pequeno a ponto de carregar gigas. O meu último achado foi uma banda de folk, não o folk dito “normal”; não é apenas música tradicional combinada com uma guitarra sonante e uma voz marcante. Geralmente, associado ao folk vem o nome de Bob Dylan ou Neil Young; mais recentemente surgiu Beirut, de quem temos dado notícias (quando o tempo é generoso), entre muitos outros que a paciência não me permite nomear. Mas se o folk integrar não só rock como rock psicadélico, indie e uma dose generosa de boas sensações auditivas, o resultado é: Dodos!
No início, eram apenas dois, agora são três: Meric Long, Logan Kroeber e Joe Haener. Gente de São Francisco que pegou nuns quantos instrumentos e os fez soar notas minimamente harmoniosas… A música reúne o paradoxo de me parecer que nunca ouvi nada assim em lado algum, ainda que me seja familiar, quem sabe se devido ao conceito tradicional que integra.
Confesso que é bastante difícil descrever a sensação de ouvir Red and Purple ou Winter, mas, de facto, a sua componente alegre faz com que o meu optimismo desponte de uma forma bestial o que, conjugado com esta chegada inesperada de sol, me torna bastante insuportável no que ao bom humor diz respeito. Adoro isso.
Do álbum Visiter não há faixa que não solte uma batida airosa, que incite o ouvinte a marcar o ritmo, agitar as pernas, estalar os dedos e mexer a cabeça. Apetece não parar, não parar… dançar, talvez…. Quiçá, cantar.
É o terceiro da banda e o único que até agora ouvi. Já por aí nomeei Red And Purple e Winter, as que mais me agradam, não desfazendo as restantes.

Absorvente; pum, pum, tchik, pum… envolva, dê umas voltas e digira com cuidado, deguste e dê estalinhos com a língua. Fresquinho.



Myspace - http://www.myspace.com/thedodos

05/02/2009

Há Grunge para além de Nirvana e PJ

Longo tempo passou desde que escrevi neste espaço pela última vez. Tempo suficiente para o blog ter mudado substancialmente de estilo e ter recebido a entrada de novos membros.

Caso para dizer que ainda bem que isso sucedeu, pois devido a novas obrigações escolares, o tempo que tanto eu como o Carlos temos para dedicar a este projecto é de facto bastante reduzido. Ainda assim, o blog mantém visitantes, e sobretudo qualidade, mais do que suficientes para sempre que der arranjar um tempinho e escrever aqui meia dúzia de linhas. Será o que farei hoje.

Divagações à parte, sigamos para o que interessa...

Grunge: Movimento culturo-musical que surgiu em Seattle no início dos anos 90. Teve como expoentes máximos Nirvana - banda que já mereceu espaço neste blog -, Pearl Jam, Soundgarden e... Alice In Chains.

É precisamente sobre estes últimos que vai residir o meu post.

Formados em 1987, em Seattle, pelo vocalista Layne Staley e pelo guitarrista Jerry Cantrel. A partir daqui podia começar a descrever aquilo que todos vós facilmente encontram melhor explicado na wikipedia ou site do mesmo género, e que culmina quase sempre com a morte de Layne Staley em 2002. De overdose.
Não o irei fazer pelo simples motivo que isso iria descaracterizar a banda e torná-la aos vossos olhos apenas mais uma, quando a minha intenção é fazer com que sintam necessidade de a conhecer. E para isso, tentarei explicar o inexplicável, ou seja, porque é que os AIC são uma das minhas bandas preferidas.

Posso dizer que conheci os Alice in Chains através do álbum MTV Unplugged. A simbiose daquela guitarra acústica com a voz melancólica e triste de Staley é simplesmente fantástica, diferente, verdadeira. Seguiram-se os álbuns ditos normais, onde o som mais pesado das guitarras eléctricas os distingue de bandas como os Nirvana e Pearl Jam,mas algo se mantinha em relação ao acústico: a qualidade da música e a transparência de Staley. Transparência no sentido em que ele conseguia deixar passar tudo o que sentia cá para fora através da música. Era como se ele metesse um papel químico entre o seu coração/mente e a sua voz/mãos no momento em que cantava/compunha. Prova disso são músicas como Down In A Hole, Nutshell, Angry Chair e mais umas quantas que vaticinavam o destino de Staley. O tema destas músicas: o suicídio. Causa da morte de Staley: overdose de uma mistura de cacaína com heroína. Algo irónico.

Actualmente "eles" estão de volta ao activo, estando a pensar lançar um novo álbum em 2009, tendo William du Val como como novo vocalista. Mas até que ponto estão os Alice in Chais a voltar aos álbuns de estúdio (já deram concertos sem Staley)? Em termos de comparação, pergunto-vos até que ponto estariam os Nirvana de volta caso um vocalista se juntasse a Grohl e Novoselic e decidisse lançar um álbum em nome dos Nirvana?

Deixo-vos com a música Nutshell, que pode ser ouvida no Gira-Discos.

E lembrem-se: há grunge para além de Nirvana e Pearl Jam.

03/02/2009

Escala em: La Blogoteque, Paris





1-OF Montreal vs Axe Riverboy - RoundAbout

A receita é simples: Pegar numa banda, dar-lhe instrumentos (ou, nalguns casos, instrumentos improvisados), juntá-los numa rua, café ou local do quotidiano, deixa-se a cozer alguns minutos, filma-se tudo e temos um
Take Away Show bem quentinho e divinal.

Através dos já mencionados Beirut, e o seu
Flying Club Cup, dei de caras com uma série de vídeos em que uma equipa, com um nome de La Blogoteque, filmara Condon e a sua banda pelas ruas de Paris a tocar músicas do já referido álbum. Então, com alguma pesquisa, tal foi a minha surpresa ao descobrir que os Beirut não haviam sido os únicos a participar em tal iniciativa.

Na verdade,
La Blogoteque é um blog francês sobre música que, como complemento aos seus escritos musicais, pegaram numa câmera de filmar e decidiram iniciar um série de Take Away Shows com alguns obscuros - outros nem tanto - artistas a tocar em locais incomuns pequenas músicas que transbordam originalidade. Além de terem no seu canal youtube diversos vídeos de concertos, estes mostram bandas e músicos tais como Arcade Fire, Fleet Foxes , Stuart Staples, Grizzly Bear ou Cold War Kids em fenomenais registos.

Além do conceito ser orginial, a forma como é filmado e actuado criam uma simbiose, por vezes de pura harmonia musical, outras de fulgorante festa e espírito independente. O melhor dos vídeos é de facto o espírito de convivência que conseguem transmitir, o jogo de sons feitos com aproximações e afastamentos da câmera e a acústica de diversos locais. A simples noção destes indivíduos, muitos deles habituados a tocar para centenas de pessoas, andarem pelo meio da rua ou estabelecimentos a criar música é soberba, e o resultado são sempre versões criativas, divertidas e diferentes das músicas que estamos tão habituados a ouvir nos nossos pristinos cd's ou computadores.

Deixo-vos agora com três vídeos (além daquele já colocado lá em cima) com os quais, tenho a certeza, se irão deleitar, e por fim, mais uma vez,
o link para o canal do youtube, um local que vale a pena perder horas a explorar.
Os artistas nos vídeos representados são;

2-Arcade Fire - Neon Bible (neste há que esperar um pouco pela música)





3-Beirut - Sunday Smile





4-Bon Iver - For Emma, Forever Ago





02/02/2009

Doismileoito - Ó céu, faz chuva em mim!

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Já parece cliché da minha parte iniciar os "posts" com títulos que correspondem a anos. No entanto, desta vez o ano não só dá título ao "post", mas sim nome a uma banda portuguesa que hoje lança o seu primeiro álbum, editado pela EMI.

Foi na Maia que três, somente três, se juntaram e fizeram... doismileoito: incrível? Nem imaginam o quanto, e a prova é revelada hoje, dois do dois de dois mil e nove.


Tenho ouvido dizer que doismileoito terá um dos melhores álbuns de dois mil e nove e, sabendo que tudo começou de dois mil e cinco para dois mil e seis (quando se juntaram na cave de um deles e composeram as músicas que os lançaram no desafio de participar no concurso TMN Garage Sessions), dois mil e sete assistiu ao lançamento do primeiro single (Acordes com Arroz) e que dois mil e oito (não a banda, mas o ano, não se vá o leitor confundir com tanto quiasmo) foi óptimo para se lançarem à estrada, é para dizer que a primeira década do novo milénio lhes saiu bem calculada; saindo vencedores do TMN GS, conquistaram o direito de actuar no palco principal do Festival do Sudoeste, com apenas quatro concertos na bagagem.



O myspace (http://www.myspace.com/doismileoito) tem disponível até 4 de Fevereiro o álbum para que o possamos ouvir à vontade. Composto por um rock característico que joga muitíssimo bem com as excelente letras, o trabalho de doismileoito fica no ouvido, entranha e envolve. Proponho-vos, portanto, uma interessante incursão pela língua portuguesa musicada; aqui, ela atinge um nível melódico e instrumental fenomenais.


Alinhamento:


1. O Caminho que Fazias Ganhou Silvas

2. A Ponte Findling

3. Acordes com Arroz

4. Cabana

5. Caratequide

6. Bem Melhor 12200074

7. So 05 So 06

8. ATL

9. Musica d' Homens

10. Tempo a Mais

11. Engate ao Espelho




Parece-me que está na hora do ouvinte validar o trabalho de Doimileoito. Não esqueçamos o que de bom se produz em terras nacionais.


"Ei, mas isso eu já sei, mostra-me o que é feio em ti."


Nota: Acrescento ainda que foi criado o separador Organist Entertains, para onde irão ser linkados todos os "posts" relativos aos álbuns lançados em 2009.


01/02/2009

Nouvelle Vague: mini-tour em Portugal

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Mar Collin e Olivier Libaux são os dois membros principais desta banda francesa de covers de músicas dos anos 80, ainda que mais uns quantos vocalistas integrem o conjunto (seis francesdas, uma brasileira e uma americana), e o objectivo é que cada cover tenha um toque único, contendo um registo distinto que o diferencie do original, seja através da vertente acústica da sua música ou da pluralidade das vozes que se traduzem num estilo bossa-nova/jazz.
O primeiro álbum (Nouvelle Vague) recaiu sobre temas de Joy Division, Dead Kennedys, The Clash e Depeche Mode; o segundo (Bande à Part), por sua vez, contém versões de músicas de Buzzcocks, New Order, Echo & The Bunnymen e Blondie.
(Curiosa a relação entre o nome escolhido para a banda e o movimento artístico do cinema francês nos anos 60, mas quanto a isso pouco ou nada posso dizer.)
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Feitas as apresentações, passemos ao que realmente importa: eles andam por terras lusas, numa curta tour acústica, após, em 2008, terem enchido o Campo Pequeno e o Teatro Sá da Bandeira. Na primeira parte do espectáculo (segundo a "Agenda Contra-Regra", do Cine-Teatro de Alcobaça), "serão apresentados temas do disco de estreia My Name de Melanie Pain e temas do novo disco de Gerald Toto (ainda sem título)".
Aqui fica o calendário das festas:


4 de Fevereiro - Teatro São Mamede, Guimarães

5 de Fevereiro - Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro

6 de Fevereiro - Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre

7 de Fevereiro - Cine-Teatro de Estarreja

8 de Fevereiro - Cine-Teatro de Alcobaça

28/01/2009

Saudades, retalhes e novidades...

As saudades de preencher este espaço eram muitas. Infelizmente as minhas jornadas académicas roubaram-me tempo para manter activo o blog. O mesmo sucedeu com o Luís. No entanto, deveriam os leitores compreender que continuamos a estimar profundamente esta nossa criação que agora é suportada com a colaboração de amigos que tal como eu, nutrem um amor especial pela música e arte.
Assim, deixo-vos este post de saudade garantindo-vos que o blog continuará com a qualidade do costume ou até mesmo melhor.
Informo também que o Sounds Against The Wall ,mesmo estando activo, continua em fase de remodelação, pois com o tempo de pausa que sofreu, alguns conteúdos do blog ficaram inactivos, como por exemplo, o nosso melodioso Gira-discos. Tentaremos também voltar a criar novas votações, dar uma nova imagem ao blog e reactivar o "Friends Against The Wall".

Para me redimir do monólogo melancólico e seco, deixo-vos uma pérola que encontrei por aí...





Muito Obrigado

Carlos Santos

26/01/2009

Passaporte Auditivo


Quase dois anos após a saída do seu último álbum (The Flying Club Cup - 2007) a banda de Zach Condon regressa com um duplo EP com raízes bem distintas. O primeiro, intitulado March Of Zapotec foi gravado no México e conta com a ajuda de The Jimenez Band. No segundo, Holland, temos um regresso aos primórdios, envendrando por um estilo mais electrónico, num registo semelhante às suas iniciais gravações caseiras.

O génio de Condon já nos havia habituado à variedade, acima de tudo, impregnando em Gulag Orkesta toda a armagura, emoção e instrumentalidade balcã e, posteriormente, a suavidade, dor e romantismo parisiense em The Flying Club Cup, apresentando-nos um verdadeiro hino à vida, à terra e aos seus povos nas suas melodias, construindo com o fulgor das trompetes, o bater dos tambores, a viagem de um acordeão ou um suave soar do ukelele, os mais sinceros postais dos locais por onde passa.

Por enquanto, resta-nos esperar de água na boca pelo EP e salivar ao som destas duas melodias já lançadas:








(Beirut- My Night With A Prostitute From Marseille , de Holland, a incursão electrónica)







(Beirut - La Llorona, de March Of Zapotec, o sabor mexicano)
Fotografia por Sergey Chilikov, autor das fotografias usadas na capa e contra-capa de Gulag Orkestar.
Texto por Rita Silva.


Se a Rita vos trouxe o que de Beirut há de novo, eu faço referência aos últimos trabalhos desta banda que, inicialmente, prometia ser um projecto a solo do vocalista, Zach Condon. O folk parece ser, sem dúvida, a principal referência, aliando-se a todo um conjunto de sons que faz lembrar as bandas filarmónicas, transpirando uma musicalidade repleta de energia, efusiva, alegre, como o verdadeiro folk deve ser.
Gulag Orkestar, de 2006, foi o primeiro álbum; depois da descrição que a Rita fez, pouco mais há a acrescentar. Talvez o facto de a banda parecer, neste trabalho, muito mais do Leste da Europa do que dos Estados Unidos, dê um toque muito distinto a toda a música do álbum. Um ano depois chegou-nos The Flying Club Cup, cujas letras são todas da autoria de Zach Condon. Enfim, mais um trabalho muito bem conseguido e cheio de vitalidade. A começar por uma chamada intensa (A Call to Arms), segue-se um rol de músicas fortes e com a sua quota parte de romantismo francês (basta avaliar a imagem que figura na capa).

Não esquecer os EP's lançados, de destacar Elephunt Gun. A primeira vez que ouvi esta música foi na Sic Radical, e devo dizer que facilmente identifiquei a autoria; seja a voz tão distinta de Zach Condon ou o dedilhar do ukulele, é impossível não reconhecer.
Possivelmente, toda esta exuberância que se traduz numa incrível mistura de multicultura, arte, diversidade, ideias e sons, está muito à frente do nosso tempo; pelo menos, se considerarmos que este é o tempo em que vinga a música de fácil digestão. É que Beirut, parecendo que não, prolifera num período musicalmente difícil.



Gulag Orkestar:
"The Gulag Orkestar" – 4:38
"Prenzlauerberg" – 3:46
"Brandenburg" – 3:38
"Postcards from Italy" – 4:17
"Mount Wroclai (Idle Days)" – 3:15
"Rhineland (Heartland)" – 3:58
"Scenic World" – 2:08
"Bratislava" – 3:17
"The Bunker" – 3:13
"The Canals of Our City" – 2:21
"After the Curtain" – 2:54



The Flying Club Cup:
"A Call to Arms" - 0:18
"Nantes" - 3:50
"A Sunday Smile" - 3:36
"Guyamas Sonora" - 3:31
"La Banlieue" - 1:58
"Cliquot" - 3:52
"The Penalty" - 2:22
"Forks and Knives (La Fête)" - 3:34
"In the Mausoleum" - 3:11
"Un Dernier Verre (Pour la Route)" - 2:51
"Cherbourg" - 3:33
"St. Apollonia" - 2:59
"The Flying Club Cup" - 3:05



Ana Luísa.